Muitos estudos atualmente sinalizam a importância da fé sobre o estado geral do corpo, afirmando inclusive que as orações podem alterar os padrões de ondas cerebrais e estimular a liberação de hormônios, aumento da função das células imunitárias, redução do risco cardiovascular e o estímulo da atividade cerebral, principalmente pela liberação de dopamina, um importante neurotransmissor associado ao estímulo das funções cerebrais e que desempenha um importante papel no aparecimento do Mal de Parkinson (escassez na via dopaminérgica nigro-estriatal).
Segundo os dados obtidos, alguns minutos de meditação e orações diárias, podem estimular a atividade cerebral e atuar na prevenção do desenvolvimento de diversos quadros patológicos associados a distúrbios de atividade cerebral. (depressão, insônia, Mal de Parkinson, ansiedade, enxaqueca).
Em contrapartida podemos observar pontos extremistas não relacionados à religião, mas sim a religiosidade, que acabam por refletir uma atitude perigosa e irresponsável com relação aos cuidados com a saúde e com o corpo. As exacerbações de expressões de fé acabam por gerar uma combinação perigosa e irresponsável, onde indivíduos são levados a acreditar que os processos patológicos, ou seja, as enfermidades que afetam o nosso corpo podem ser solucionadas única e exclusivamente a partir de atos de fé, ignorando os avanços científicos no desenvolvimento de técnicas e medicamentos cada vez mais específicos e eficazes para o tratamento das doenças, deixando a cabo da ação divina a solução do problema, em uma demonstração de omissão de responsabilidade individual.
Um fato ocorrido dentro do programa de prevenção de risco cardiovascular e metabólico, voltado a hipertensos e diabéticos da terceira idade, implementado na cidade de Cabo Frio-RJ, exemplifica bem esse comportamento de risco. Uma pessoa ao ser inquirida sobre a visita ao médico para consulta, por se tratar de um hipertenso sintomático, com índices elevados de pressão arterial (PA), respondeu da seguinte forma: “− Ah! mas eu confio em Deus e sei que ele já me curou, eu não preciso de remédio nenhum, nem preciso ir ao médico, porque Deus cuida de mim.” Em face a esta resposta foram dadas as orientações necessárias e ressaltada a importância da consulta regular ao médico, explicando os riscos associados a hipertensão Arterial Sistêmica. Podemos classificar o comportamento desta pessoa como um importante fator para o risco de morbimortalidade com origem cardiovascular, que está intrinsecamente associada à hipertensão arterial e que reflete o perigo por de traz dos atos extremistas de fé.
É fato que a religião ganha grande apelo dentro das camadas mais pobres de uma população, aqui na América Latina, principalmente dos seguimentos protestante ou evangélico e os renovados e carismáticos. Estes encontram grande força na carência, física, emocional, social e econômica, destas populações mais pobres. As pessoas procuram uma solução para seus problemas e a igreja está ali pronta para aliviar seu sofrimento, tanto físico como espiritual. O problema está na transferência para a entidade divina da responsabilidade para a resolução de todos os problemas do homem. De forma não racional e inconseqüente pessoas estão se aprofundando em uma pseudo-religiosidade extremista e sem fundamentação, tornando-se vítimas da falta de informação e da negligência de alguns líderes eclesiásticos, que poderiam sim, estar desempenhando um importante papel na promoção de saúde e qualidade de vida, assumindo a responsabilidade solidária, em relação à saúde e o bem estar destes que partilham de sua fé, evitando que a falta de informação se transforme em fanatismo, colocando-as em uma situação de risco para sua saúde, para sua vida.